Um satélite revolucionário está prestes a ser lançado para monitorar a superfície da Terra com uma precisão nunca antes alcançada. O equipamento é fruto de uma parceria entre as agências espaciais norte-americana (NASA) e indiana (ISRO) e está programado para decolar na quarta-feira (18), a partir do Centro Espacial Satish Dhawan, na Índia.
Chamado de NISAR (sigla para Radar de Abertura Sintética NASA-ISRO), o satélite de quase três toneladas e equipado com uma antena de radar de 12 metros, foi projetado para observar o solo, as florestas e a água da Terra em detalhes minuciosos. Com custo de US$1,5 bilhão (mais de R$8 bilhões, na cotação atual), ele promete fornecer dados úteis para agricultores, cientistas do clima e equipes de resposta a desastres naturais. O acesso a essas informações será gratuito e aberto ao público.
Em poucas palavras:
- O satélite NISAR, uma colaboração entre os EUA e a Índia, está programado para ser lançado esta semana;
- Ele vai monitorar a Terra com altíssima precisão inédita;
- Equipado com radar SAR, o equipamento vai mapear o planeta dia e noite, atravessando nuvens, fumaça e escuridão total;
- Terá capacidade de detectar mudanças milimétricas no solo, umidade, alagamentos, florestas e carbono, mesmo sob vegetação densa;
- O equipamento supera satélites anteriores com radar duplo, cobrindo regiões geladas e áreas remotas com mais eficiência;
- Os dados gratuitos ajudarão cientistas, agricultores e socorristas a enfrentar desastres e proteger o meio ambiente.
Novo satélite vai mapear o planeta 24 horas por dia
Satélites de observação da Terra já são usados há décadas para prever o tempo, acompanhar desastres e estudar as mudanças climáticas. No entanto, a maioria deles só consegue capturar imagens durante o dia e em locais sem nuvens, pois dependem da luz solar refletida na superfície terrestre.
O NISAR vem para mudar isso. Ele usará uma tecnologia chamada radar de abertura sintética (SAR). Com ela, em vez de esperar a luz do Sol, o satélite envia seus próprios sinais de radar em direção à Terra e analisa o que volta refletido. Funciona como um flash de câmera que permite tirar fotos mesmo no escuro.
Isso significa que o NISAR poderá mapear o planeta dia e noite, faça chuva ou faça sol. Os sinais de radar atravessam nuvens, fumaça e até cinzas vulcânicas, o que é especialmente importante durante emergências como enchentes, incêndios ou erupções. O radar também penetra vegetações densas, identificando a presença de água mesmo sob a copa das árvores.
De acordo com Steve Petrie, pesquisador de observação da Terra na Universidade de Tecnologia de Swinburne, na Austrália, em um artigo publicado no site The Conversation, esse tipo de tecnologia, inventada em 1951, já vem sendo usada em outros satélites. Um exemplo recente é a missão Biomass, da Agência Espacial Europeia (ESA), que consegue criar imagens tridimensionais das florestas e calcular com precisão a quantidade de carbono armazenado. O NISAR, no entanto, terá ainda mais alcance e resolução.
O cientista Sang-Ho Yun, diretor de um observatório na Ásia, é um defensor entusiasta do uso dessa tecnologia em situações de desastre. Ele já utilizou dados de radar SAR para mapear os danos de centenas de terremotos, enchentes e tufões nos últimos 15 anos. Segundo a análise de Petrie, o NISAR ampliará muito essa capacidade de resposta.
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NASA e ISRO levaram 10 anos para desenvolver o projeto
O satélite foi desenvolvido ao longo de mais de dez anos e é um dos mais caros da história na categoria de observação da Terra. Seu diferencial é a capacidade de fornecer imagens de quase todas as regiões de terra e gelo do planeta, com atualizações a cada poucos dias.
Comparado aos satélites europeus Sentinel-1, que também usam radar SAR, o NISAR terá algumas vantagens. Ele será o primeiro a operar com duas frequências de radar ao mesmo tempo, o que vai aumentar a qualidade das imagens. Também terá melhor cobertura da Antártida e maior capacidade de atravessar vegetações densas.
Um dos principais usos do equipamento será o monitoramento de florestas, medindo a quantidade de biomassa e de carbono presente. Além disso, conseguirá mapear áreas alagadas com grande precisão, o que ajudará no estudo de zonas úmidas, regiões importantes para a biodiversidade e o equilíbrio do clima.

Desastres, agricultura e avanço de geleiras na mira do NISAR
Outro destaque do NISAR será a capacidade de detectar pequenas alterações na altura da superfície terrestre, de centímetros ou até milímetros. Isso permitirá acompanhar o rebaixamento de terrenos, o nível de água subterrânea e movimentos causados por terremotos, deslizamentos ou atividade vulcânica.
Esses dados vão ajudar equipes de resgate e defesa civil a avaliar rapidamente os danos e planejar melhor as ações de emergência. No campo da agricultura, o NISAR também será uma ferramenta valiosa, pois conseguirá medir a umidade do solo em alta resolução, independentemente do clima ou da hora do dia. Com isso, será possível melhorar o manejo da irrigação, evitar desperdícios e aumentar a produtividade agrícola.
Além de tudo isso, o satélite indo-americano vai monitorar o avanço de geleiras, a erosão costeira e até vazamentos de óleo no mar. A expectativa é que a missão traga muitos benefícios para a ciência, a agricultura e a proteção ambiental em escala global.
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