Anunciantes usam marcas famosas, como Hèrmes e Louis Vuitton, para atrair consumidores, embora empresas neguem fabricação no país. Nike recomenda procurar canais oficiais, e especialista alerta sobre risco de falsificação: ‘Preço elevado das marcas de luxo não se deve ao custo de produção, mas à percepção de valor e exclusividade’. Tarifaço de Trump: chineses mostram suposto segredo de produtos de luxo no TikTok
Após o tarifaço imposto por Donald Trump contra produtos chineses, o TikTok virou uma vitrine para vendedores da China, que usam marcas famosas, como Hèrmes, Louis Vuitton e Nike, para atrair os consumidores.
Algumas dessas marcas, entretanto, sequer têm produção no país asiático e, mesmo nos casos em que isso acontece, a ideia de que seria possível comprar diretamente dos fabricantes é considerada por um especialista em negócios ouvido pelo g1 como uma hipótese bem remota.
Tem sugestão de reportagem? Escreva para o g1
Alguns desses vídeos, inclusive, foram tirados do ar. As diretrizes do TikTok dizem que a plataforma “é um lugar onde você pode compartilhar ou pesquisar informações sobre produtos ou atividades comerciais regulamentadas”, mas ressaltam que a rede social “não é um local para tráfico ou comércio ilegal, nem um mercado não oficial (contrabando)”.
Visualizações cresceram após tarifaço
Embora esses vídeos já circulassem antes, ganharam força com o aumento das tarifas americanas contra a China, que chegaram a 145%, podendo alcançar 245% para alguns produtos. Desde então, novos vídeos continuam sendo publicados, alimentados pela guerra comercial.
A hashtag #madeinchina (Feito na China, em tradução livre), usada em alguns desses vídeos, cresceu após o tarifaço, segundo dados do TikTok. Veja a variação de menções nos gráficos abaixo:
Nos Estados Unidos:
Tendências da hashtag “madeinchina” nos Estados Unidos desde antes do tarifaço até 25 de abril
TikTok Creative Center
No Brasil:
Tendências da hashtag “madeinchina” nos Estados Unidos desde antes do tarifaço até 25 de abril
TikTok Creative Center
Alguns usuários chegam a ver esses vídeos como atos de resistência às tarifas impostas por Trump ou como a revelação do que seriam, segundo eles, “verdades ocultas”.
“Essa guerra comercial está expondo o que é verdade e o que é fake”, diz o influenciador Money Bates em um vídeo com mais de 11 milhões de visualizações. “Eles [chineses] vêm produzindo — e produzem por um preço mais baixo”, afirma.
TikTok vira vitrine de produtos chineses
Reprodução/TikTok
“Eu estou chocada sobre o quanto a China está expondo o segredo de grandes marcas e não está com medo de nada. Isso porque grandes empresas chinesas que produzem artigos de luxo estão mostrando como tudo é feito lá na China”, diz uma usuária brasileira do TikTok.
Resistência? Não é bem assim…
O que os criadores desses vídeos estão fazendo, entretanto, é vender produtos. No final de muitos dos vídeos, os vendedores orientam os usuários a clicarem em links no perfil ou a enviarem mensagens privadas para receberem links de fábricas.
A ideia difundida é a de que as peças mostradas nos vídeos são as que vão parar nas prateleiras das lojas de marcas de luxo nos EUA e na Europa, ou que são similares às originais e têm o mesmo grau de qualidade.
Um vídeo publicado após o tarifaço por um perfil chamado Wukong_LuxeLadyCraft afirma que os logos das marcas de luxo seriam a única coisa que diferencia os produtos vendidos no exterior daqueles vendidos pelas fábricas que suprem esse mercado.
Vídeo no TikTok diz que única diferença entre bolsa fabricada na China e na Europa seria o logo das marcas.
Reprodução/TikTok
“Mais de 80% das bolsas de luxo são feitas na China. Normalmente com os mesmos materiais e artesanato que as versões europeias. A única diferença? O rótulo”, diz a vendedora. Até a publicação da reportagem, o perfil tinha 5 mil seguidores e mais de 80 mil curtidas.
O especialista em negócios e tecnologia Arthur Igreja alerta para riscos sobre o que está sendo vendido por esses perfis.
“Não tem nada de diferente de quem estende uma toalha no meio da rua e vende uma Louis Vuitton falsificada. Agora é via TikTok, via rede social”, diz.
Igreja afirma que muitos desses vídeos exploram o desejo do consumidor por um “milagre de consumo”, algo similar à Black Friday.
“A pessoa quer acreditar que está fazendo um grande negócio, mas ignora que o preço elevado das marcas de luxo não se deve ao custo de produção, mas à percepção de valor e exclusividade. Não existe milagre”, diz.
O que o especialista em negócios recomenda é que os consumidores mantenham uma “desconfiança proativa”: “A pessoa precisa desconfiar de tudo. Questionar por que está muito barato. Se quiser verificar uma promoção, vá direto ao site oficial da marca”, disse.
“[Essas fábricas] são auditadas com extremo rigor. É inocência achar que alguém dentro dessas fábricas vazaria vídeos e venderia produtos diretamente”, afirma.
Além disso, Igreja afirma que embora algumas marcas como Nike, Adidas, New Balance e Lululemon de fato tenham parte da sua produção na China, seria inocente acreditar que é possível comprar esses produtos diretamente das fábricas, sem a intermediação das empresas.
Em um perfil que vende bolsas, um homem que se apresenta como fabricante afirma que um item da marca Hermès, que custa US$ 23,6 mil nas lojas oficiais, sai por US$ 600 na China. “Vamos expor os segredos sujos dos preços de luxo”, diz. O vídeo, publicado antes do tarifaço, não está mais disponível na plataforma.
A vendedora Luna afirma, em um dos seus vídeos, que é possível conseguir uma calça da marca de roupas esportivas Lululemon por 5% do preço pelo qual ela é vendida nos EUA.
“Acho que a maioria de vocês sabe o preço da Lululemon ou de outras grandes marcas. Eles vendem uma calça legging por US$ 100. Adivinha só: nessas duas fábricas [chinesas], você consegue por US$ 5 ou US$ 6”, diz ela.
A versão original do vídeo foi excluída do perfil da vendedora, mas já foi replicada por outros perfis.
O que dizem as marcas?
A Hermès e a Louis Vuitton afirmam não possuir produção na China. A Hermès diz, ainda, que fabrica a maior parte dos produtos na França.
A Lululemon, em um relatório de 2023, afirma que 19% dos seus produtos são produzidos na China, mas negou ao jornal “The New York Times” trabalhar com os fabricantes citados nos vídeos e alertou contra falsificações.
Procurada pelo g1, a Nike recomendou que os consumidores procurassem as lojas oficiais ou parceiros autorizados.
Adidas, que tem 16% de sua produção feita na China, e a New Balance, que tem dezenas de fornecedores no país, não responderam.
Após o tarifaço imposto por Donald Trump contra produtos chineses, o TikTok virou uma vitrine para vendedores da China, que usam marcas famosas, como Hèrmes, Louis Vuitton e Nike, para atrair os consumidores.
Algumas dessas marcas, entretanto, sequer têm produção no país asiático e, mesmo nos casos em que isso acontece, a ideia de que seria possível comprar diretamente dos fabricantes é considerada por um especialista em negócios ouvido pelo g1 como uma hipótese bem remota.
Tem sugestão de reportagem? Escreva para o g1
Alguns desses vídeos, inclusive, foram tirados do ar. As diretrizes do TikTok dizem que a plataforma “é um lugar onde você pode compartilhar ou pesquisar informações sobre produtos ou atividades comerciais regulamentadas”, mas ressaltam que a rede social “não é um local para tráfico ou comércio ilegal, nem um mercado não oficial (contrabando)”.
Visualizações cresceram após tarifaço
Embora esses vídeos já circulassem antes, ganharam força com o aumento das tarifas americanas contra a China, que chegaram a 145%, podendo alcançar 245% para alguns produtos. Desde então, novos vídeos continuam sendo publicados, alimentados pela guerra comercial.
A hashtag #madeinchina (Feito na China, em tradução livre), usada em alguns desses vídeos, cresceu após o tarifaço, segundo dados do TikTok. Veja a variação de menções nos gráficos abaixo:
Nos Estados Unidos:
Tendências da hashtag “madeinchina” nos Estados Unidos desde antes do tarifaço até 25 de abril
TikTok Creative Center
No Brasil:
Tendências da hashtag “madeinchina” nos Estados Unidos desde antes do tarifaço até 25 de abril
TikTok Creative Center
Alguns usuários chegam a ver esses vídeos como atos de resistência às tarifas impostas por Trump ou como a revelação do que seriam, segundo eles, “verdades ocultas”.
“Essa guerra comercial está expondo o que é verdade e o que é fake”, diz o influenciador Money Bates em um vídeo com mais de 11 milhões de visualizações. “Eles [chineses] vêm produzindo — e produzem por um preço mais baixo”, afirma.
TikTok vira vitrine de produtos chineses
Reprodução/TikTok
“Eu estou chocada sobre o quanto a China está expondo o segredo de grandes marcas e não está com medo de nada. Isso porque grandes empresas chinesas que produzem artigos de luxo estão mostrando como tudo é feito lá na China”, diz uma usuária brasileira do TikTok.
Resistência? Não é bem assim…
O que os criadores desses vídeos estão fazendo, entretanto, é vender produtos. No final de muitos dos vídeos, os vendedores orientam os usuários a clicarem em links no perfil ou a enviarem mensagens privadas para receberem links de fábricas.
A ideia difundida é a de que as peças mostradas nos vídeos são as que vão parar nas prateleiras das lojas de marcas de luxo nos EUA e na Europa, ou que são similares às originais e têm o mesmo grau de qualidade.
Um vídeo publicado após o tarifaço por um perfil chamado Wukong_LuxeLadyCraft afirma que os logos das marcas de luxo seriam a única coisa que diferencia os produtos vendidos no exterior daqueles vendidos pelas fábricas que suprem esse mercado.
Vídeo no TikTok diz que única diferença entre bolsa fabricada na China e na Europa seria o logo das marcas.
Reprodução/TikTok
“Mais de 80% das bolsas de luxo são feitas na China. Normalmente com os mesmos materiais e artesanato que as versões europeias. A única diferença? O rótulo”, diz a vendedora. Até a publicação da reportagem, o perfil tinha 5 mil seguidores e mais de 80 mil curtidas.
O especialista em negócios e tecnologia Arthur Igreja alerta para riscos sobre o que está sendo vendido por esses perfis.
“Não tem nada de diferente de quem estende uma toalha no meio da rua e vende uma Louis Vuitton falsificada. Agora é via TikTok, via rede social”, diz.
Igreja afirma que muitos desses vídeos exploram o desejo do consumidor por um “milagre de consumo”, algo similar à Black Friday.
“A pessoa quer acreditar que está fazendo um grande negócio, mas ignora que o preço elevado das marcas de luxo não se deve ao custo de produção, mas à percepção de valor e exclusividade. Não existe milagre”, diz.
O que o especialista em negócios recomenda é que os consumidores mantenham uma “desconfiança proativa”: “A pessoa precisa desconfiar de tudo. Questionar por que está muito barato. Se quiser verificar uma promoção, vá direto ao site oficial da marca”, disse.
“[Essas fábricas] são auditadas com extremo rigor. É inocência achar que alguém dentro dessas fábricas vazaria vídeos e venderia produtos diretamente”, afirma.
Além disso, Igreja afirma que embora algumas marcas como Nike, Adidas, New Balance e Lululemon de fato tenham parte da sua produção na China, seria inocente acreditar que é possível comprar esses produtos diretamente das fábricas, sem a intermediação das empresas.
Em um perfil que vende bolsas, um homem que se apresenta como fabricante afirma que um item da marca Hermès, que custa US$ 23,6 mil nas lojas oficiais, sai por US$ 600 na China. “Vamos expor os segredos sujos dos preços de luxo”, diz. O vídeo, publicado antes do tarifaço, não está mais disponível na plataforma.
A vendedora Luna afirma, em um dos seus vídeos, que é possível conseguir uma calça da marca de roupas esportivas Lululemon por 5% do preço pelo qual ela é vendida nos EUA.
“Acho que a maioria de vocês sabe o preço da Lululemon ou de outras grandes marcas. Eles vendem uma calça legging por US$ 100. Adivinha só: nessas duas fábricas [chinesas], você consegue por US$ 5 ou US$ 6”, diz ela.
A versão original do vídeo foi excluída do perfil da vendedora, mas já foi replicada por outros perfis.
O que dizem as marcas?
A Hermès e a Louis Vuitton afirmam não possuir produção na China. A Hermès diz, ainda, que fabrica a maior parte dos produtos na França.
A Lululemon, em um relatório de 2023, afirma que 19% dos seus produtos são produzidos na China, mas negou ao jornal “The New York Times” trabalhar com os fabricantes citados nos vídeos e alertou contra falsificações.
Procurada pelo g1, a Nike recomendou que os consumidores procurassem as lojas oficiais ou parceiros autorizados.
Adidas, que tem 16% de sua produção feita na China, e a New Balance, que tem dezenas de fornecedores no país, não responderam.